Crescer é divertido…mas dói.

Ontem passei o dia inteiro lendo.  Não conseguia parar de ler essa história maravilhosa entre Raffaella Cerullo, ou Lina, ou Lila e Lenu, essa história que também foi minha pelos 9 dias que levei para ler e que me trouxe grande prazer, grande dor, grande tristeza.  Mas também trouxe alegrias, sentimentos de outrora que foram lembrados e repassados na minha cabeça.

Confesso que se fosse por mim, teria ficado em casa, lendo sem parar até acabar…mas, precisava sair, ver gente, pensar, lembrar, meditar sobre as duas meninas..mulheres…Acontece que às vezes penso que a minha vida nos livros é mais cheia das belezas que eu mesma crio no imaginário da vida. Não gosto muito das conversas sem sentido, das pessoas sem foco, das vidas sem rumo.  Prefiro ficar na minha.  Com a companhia de alguém que me faça pensar…

Os grandes, à espera de amanhã, se movem num presente atrás do qual há ontem ou o anteontem ou no máximo a semana passada: não querem pensar no resto.  Os pequenos não sabem o significado do ontem, do anteontem, nem de amanhã, tudo é isto, agora: a rua é esta, o portão é este, as escadas são estas, esta é a mamãe, este é o papai, este é o dia, esta, a noite.

Não consegui ler o livro para quando o grupo de leitura se reuniu para comentar, mas tudo o que comentaram serviu para atiçar mais a minha vontade de ler.  Vontade que aumentou (de maneira superlativa) assim que li as primeiras páginas.  Belo romance escrito por esta “pessoa” da qual o único que se sabe é que é da Itália.  O demais, a gente infere pela precisão e os detalhes incríveis de uma infância vivida em Nápoles, com um cenário histórico delicioso que me fez voltar ao passado…mas, calma aí…eu não sou italiana, eu não fui criança nos anos de 1950! Como assim?  Elena Ferrante (pseudônimo adotado pela autora ou o autor) tem a chave da máquina do tempo e sensibilidade de te seduzir e fazer entrar nesse universo tão lúdico e violento que é a infância.  E mais se a infância tem como pano de fundo o que restou da Segunda Guerra.

Enquanto isso, com o dinheiro de dom Achille, comprou um romance: Mulherzinhas.  Resolveu comprá-lo porque já o conhecia e gostara bastante dele.  Na quarta série, a professora Oliviero nos tinha dado, às melhores alunas, alguns livros para ler.  Ela recebeu o Mulherzinhas, com a seguinte frase de acompanhamento: “Este é para as maiores, mas já serve para você”; já eu fiquei com o Coração, sem nem mesmo uma palavra que me explicasse de que se tratava.

A Amiga Genial é um livro que fala da relação madura de duas garotas, e do crescimento interno que faz as duas se converterem em uma, mas que essas duas metades sejam nulas se separadas.  Uma vive para a outra existir.  E vice versa.  Sentimento universal, esse, de amor e ódio, admiração e inveja…tudo misturado.  Quem nunca sentiu isso?  Duas meninas começando a viagem introspectiva do crescer.

Sempre que podia, me trancava no banheiro e me olhava no espelho, nua.  Não sabia quem mais eu era.  Comecei a suspeitar de que mudaria cada vez mais, até que de mim saísse realmente minha mãe, manca, com o olho torto, e ninguém mais gostasse de mim.  Muitas vezes chorava, sem quê nem pra quê.  Enquanto isso o peito, que de início estava duro, se tornou mais pesado e macio.  Senti-me à mercê de forças obscuras, que agiam de dentro de meu corpo, e estava sempre em ânsias.

Transformações físicas e filosóficas…

Falou-me em detalhes sobre Dido, figura inteiramente desconhecida para mim, cujo nome escutei pela primeira vez não na escola, mas dela.  E, numa tarde, lançou uma observação que me abalou muito.  Disse: “Se não há amor, não só a vida das pessoas se torna árida, mas também a das cidades”.

Elena Ferrante me cativou.  Quero ler mais dela (dele).  Quem se importa se é homem, se é mulher.  O circo mediático que faz com que os autores virem até amigos no Facebook, não é senão uma palhaçada para os que precisam de motivos fúteis para gostar ou não de determinado autor.  Por mim, ela pode ser hermafrodita, um E.T. ou mesmo um transgênero! O coração e a sensibilidade não tem gênero.

Desapareceu, temi que tivesse se afogado, mas nem Marisa nem Lidia se preocuparam. Reapareceu quase duas horas depois e se pôs a ler, fumando um cigarro atrás do outro. Leu o dia inteiro, sem jamais nos dirigir a palavra e alinhando as guimbas na areia, em fila dupla. Também comecei a ler, recusando o convite de Marisa para passear pela orla. No jantar ele comeu depressa, saiu. Tirei a mesa e lavei os pratos pensando nele. Montei minha cama na cozinha e me pus de novo a ler, esperando que ele voltasse. Li até por volta da uma, depois dormi com a luz acesa e o livro aberto no peito. De manhã acordei com a luz apagada e o livro fechado. Pensei que tivesse sido ele e senti uma onda de amor nas veias como nunca experimentara antes.

Na varanda…

IMG-20151128-WA0001Desapareceu, temi que tivesse se afogado, mas nem Marisa nem Lidia se preocuparam. Reapareceu quase duas horas depois e se pôs a ler, fumando um cigarro atrás do outro. Leu o dia inteiro, sem jamais nos dirigir a palavra e alinhando as guimbas na areia, em fila dupla. Também comecei a ler, recusando o convite de Marisa para passear pela orla. No jantar ele comeu depressa, saiu. Tirei a mesa e lavei os pratos pensando nele. Montei minha cama na cozinha e me pus de novo a ler, esperando que ele voltasse. Li até por volta da uma, depois dormi com a luz acesa e o livro aberto no peito. De manhã acordei com a luz apagada e o livro fechado. Pensei que tivesse sido ele e senti uma onda de amor nas veias como nunca experimentara antes.