Futebol é arte. É literatura.

Perguntando para muitas pessoas se estão animadas para a Copa do Mundo na Russia, a resposta tem sido “Não estou nem aí para o futebol.” Muitos torcem o nariz, achando talvez não haver cultura nessa atividade.  Para mim, assistir um jogo de futebol tem a ver com criatividade, surpresa, agonia, sofrimento, alegria, clímax.  Não são esses os componentes de uma boa obra?  Pesquisando na internet, descobri muito do que já sentia: Literatura e Futebol podem ser mencionados na mesma sentença! Futebol é um tema decisivo para a literatura brasileira.  Como não lembrar do pernambucano Nelson Rodrigues (tricolor fanático) e suas crônicas em jornais e revistas? “O “entendido” só não se torna abominável porque o ridículo o salva”, “Quem paga e quem perde as partidas é a alma”, “a arbitragem normal e honesta confere às partidas um tédio profundo, uma mediocridade irremediável.” O que ele escrevia era sem dúvida literatura.  Carlos Drummond de Andrade, no livro “Quando é dia de futebol”, homenageia Garrincha e termina uma crônica com uma recomendação: “Vai brincar, pois para isso nasceste.” São muitos os que escreveram sobre futebol.  Desde Graciliano Ramos até Rubem Fonseca. Mas vou deixar aqui, uma preciosidade da Clarice Lispector, botafoguense do coração: entrevista com Zagallo publicada no Jornal do Brasil de 28 de março de 1970.

 

http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=030015_09&PagFis=5220&Pesq=lispector+futebol

Deixai as crianças brincar!

Conversar sobre literatura é um dos temas que mais me fascinam e despertam a minha curiosidade sobre novos livros e novas narrativas.  Surpresas agradáveis em reuniões entre amigos, quando alguém comenta sobre livros que você já leu ou que gostaria de ler mas faltava aquele empurrãozinho.   E a surpresa vem com um gosto especial quando se trata de adolescentes que leem.  Eu não gosto muito de generalizações do tipo “brasileiro não lê” ou “adolescentes não gostam de livros”.

Para exemplificar, duas surpresas agradabilíssimas:  um garoto de aproximadamente 16 anos, numa festa entre amigos, lia Nietzsche Em Busca do Super Homem, de Voltaire Schilling. Um livro sobre a vida deste importante filósofo, literato, crítico, músico, ideólogo.  Seu talento inspira e provoca até os dias de hoje.

A outra supresa, veio de uma garota de aproximadamente 12 anos, cujo gosto literário me inspira e me faz ter esperança nos jovens.  O livro em questão: “Maus – A história de um sobrevivente”, uma das melhores obras já feitas sobre o holocausto na Segunda Guerra.  É uma história em quadrinhos escrita pelo americano Art Spiegelman, construida a partir do relato real de Vladek Spiegelman, pai do autor, que sofreu nos campos de concentração.

Fiquei pensando nesses garotos e nos filhos de amigos que também gostam de ler.  O que os torna especiais e o que eles podem nos oferecer, em termos literários?  Muito.  É como se olhássemos para a continuação dessa construção de sermos humanos.  Nos dias de hoje, é imperativo!