Flip 2017. O homenageado era ele, mas a festa era de todos!

IMG_4752Uma das coisas que tinha há exatamente 15 anos marcada na minha “wish list” era assistir à Flip – Festa Literária Internacional de Paraty.  Como assim que eu, do jeito que gosto de livros, de ler, de conhecer vidas e histórias, ainda não havia conseguido ir?  Pois é…acredito no tempo exato para passar por experiências na vida e esse tempo era agora.  A Flip 2017 comemora 15 anos  e o homenageado, Lima Barreto, um dos mais importantes escritores brasileiros e presença obrigatória em qualquer biblioteca do Brasil e do mundo, fez bonito.   Conheci Afonso Henriques de Lima Barreto por recomendação do Ricardo Reis, meu irmão de Jataí.  Um dia ele me deu uma edição barata, comprada num sebo da Luz, em São Paulo.  Me disse que eu precisava conhecer Lima Barreto urgentemente.  Ele estava certo.  Apartir de então, gostei desse carioca de origem humilde, negro numa Rio de Janeiro marcada pela divisão de classes, mas que soube aproveitar a influencia das belas letras europeias que chegavam do outro lado do Atlântico.  Foi difícil, ainda o é, ser numa sociedade que faz de tudo para humilhar, para te convencer que você não é ninguém, que você vale menos que um pedaço de pau.

Chegando na Flip, na mesa A Pele que Habito, um depoimento belíssimo e tocante de uma mulher, neta de escravos, “educada” pelas freiras das missões que pegavam crianças pobres (léia-se negras) no interior de Paraná para educar, mas segundo Diva Guimarães, foi para trabalhar, e muito! Diva botou o Lázaro Ramos (que homem lúcido e representante de essa humanidade linda que há que imitar) para chorar.  E como chorou o Lázaro.  Como choramos todos imaginando a dor, o sofrimento e humilhação…tudo por uma cor, que para mim, é linda.  Por que será tão difícil para algumas pessoas entender que não tem uma cor melhor ou pior? Quanta maior a variedade de cultura, tradição, história, melhor, não é?  A Diva foi ovacionada.  Talvez os mesmos que aplaudiram, tenham empregadas negras e negros dormindo num cubículo das suas grandes casas.  Talvez esses mesmos que choraram não querem que as suas filhas namorem alguém de pele cor de canela.  Ou talvez, os de cor de canela querem que as suas filhas e filhos “melhorem a raça”.  E assim, a Flip faz o seu papel de festival para gerar idéias e pensamentos, debater questões importantes e trazer a vox populi ao palco.  O povo quer falar.

Lima Barreto, você viu o que gerou? A tua maneira polida de falar sobre os oprimidos, na língua dos opressores.  Gênio.

“Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condenava? matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.  Triste Fim de Policarpo Quaresma.  (Lima Barreto)

 

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